terça-feira, 27 de setembro de 2011

Medo de Pular

MEDO DE PULAR

Fazia um mês que ele repetia o que já se tornava um ritual. Parava em frente da janela e  olhava primeiro para cima, para o céu, admirava as nuvens, sentia o vento bater no rosto e se lembrava de que tudo isso podia ser seu. Então, ele olhava para baixo. Para o chão, 7 andares abaixo. A ponta das grades que ficavam na entrada do prédio. Imaginava se bateria nelas quando caísse. Talvez acertasse as costas na bancada do jardim. A altura não era garantia de que ele morreria. Talvez só quebrasse as costas, ficasse inválido, ironicamente como aquele ator que fez o Superman no cinema. O ritual sempre terminava do mesmo jeito, ele se afastava da janela, abria a porta e ia para o trabalho.
Ele pensava muito sobre o assunto de origens secretas. Adolescente, colecionava histórias em quadrinho. Por isso, sabia como a sua situação era única. Aranhas radioativas, acidentes em laboratórios, foguetes do espaço, medalhões mágicos. Todos os super-heróis ganhavam suas habilidades em um grande evento fantástico que mudava a sua vida. Com exceção dos mutantes, que um dia se descobriam alterando as leis da física. Mas os mutantes viviam em um mundo onde as leis da física não eram respeitadas. Para todos os outros era fácil.
Ele era só um engenheiro que lia histórias em quadrinho muitos anos atrás. Sua origem também era um acidente, mas um acidente de trabalho. Perdeu o equilíbrio quando estava no prédio que acompanhava a construção e caiu. Ele se lembra com detalhes sádicos a queda. Já tinha lido em algum lugar que o cérebro aumenta a velocidade de processamento em situações de perigo, a percepção de tempo acelera e o mundo fica em câmera lenta. Para ele foi pior, a sua percepção de tempo acelerou a níveis sobrehumanos e os 22 andares que caiu duraram o que pareceu dias. Conseguiu passar por todos os estágios de alguém que descobre que vai morrer. A negação inicial, raiva, barganha, depressão e aceitação. Mas ele não morreu. Acertou o chão e quebrou o piso de concreto que tinham armado no dia anterior.
Na alegria de não ter morrido, deu um pequeno salto e, para a sua surpresa, não parou de subir. Em frações de segundos, estava acima dos 30 andares do prédio. O pânico de repetir o acidente passou quando viu que não estava caindo. Desejou se mover até o terraço do prédio e quando pousou suas pernas pareciam de borracha. Ele desceu o elevador da obra, segurando com força nas suas vigas de aço, com medo de ser lançado novamente no ar. Quando chegou ao térreo, percebeu que tinha deixado a impressão da sua mão no metal.
E foi isso. Essa era a sua origem secreta. Sem aviso, sem motivo, ele se tornou a primeira pessoa com superpoderes do mundo. E esse era o problema. Ele testava a resistência da sua pele, deixava a mão sobre o fogo, tentava cortar sua mão com uma faca, flutuava até o teto do seu apartamento e pairava por vários minutos, prendia sua respiração por horas, levantava o seu sofá com uma única mão. Mas fazia isso com medo. Como não ter? O que ele fazia era impossível. Não deveria acontecer. E, por isso, tinha medo que tudo acabasse, de repente, do mesmo jeito que começou. E se acabasse enquanto estivesse no ar e ele caísse novamente? Dessa vez, ele morreria ou pior. E se tentasse ajudar alguém, parar um trem, levar um tiro, combater o crime, como em seus sonhos de criança, e no meio de tudo ele se tornasse uma pessoa normal?
Então, ele parava na janela do seu apartamento. E olhava para cima. E olhava para baixo. Com medo de pular. Sem motivo para ter medo. E abria a porta. E esperava o elevador.                      

Todo dia ele olhava pela janela pensando se ele se atirava ou nao, ele tambem pensava que podia se atirar e nao morrer ou podia se quebrar as costas cair em cima da banca do jardim quando se atirou parecia que nunca pasava o tempo parecia dias,mais ele nao merreu quando ele caio no chao e quebrou o chao e o piso que ele mesmo tinha botado no outro dia passado.

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